Não sou boa amostra para estatísticas, sabem? Tão depressa me arrasto sobre um rasto de mel, como parto esta merda toda. Gostava de ser meia haste, até porque me farto de sofrer por não o ser, mas não consigo. Entro a matar, a abrir, anda tudo nas horas, não penso nos prós, nos prés, nos ante e nos após, quero mais é que isso se foda. Não sei dar o beneficio da dúvida e parto do pressuposto que toda a gente é culpada até prova em contrário. Eu é que sei, a sabona, e chego a provar, com provas e tudo (ahahaahahahahah também sou bué engraçada mas isso agora não vem ao caso) incoerências e disparates. Revolto de tal maneira as coisas que o pessoal é obrigado a dar-me razão, vencidos pelo meu poder de persuasão. Claro que quando calho a reparar que afinal estou errada, não me vergo, óbvio. Novelas, dramas e por vezes thrillers, são realizados em minha muito fértil imaginação e depois é que são elas para desfazer estes imbróglios todos e às vezes falta-me a paciência. Reparasteís que disse que me faltava a paciência para mim própria, pois reparasteís? Isto só prova que apesar de tudo sou uma pessoa humilde com clara noção das sua desqualidades. Sou, porém, uma pessoa com um apurado sentido de oportunidade, e regra geral aponto-as com alguma inteligência. Para além disto tudo e como se já não fosse pouco, já tive um cu que era um mimo.
Conto tê-lo de novo, mas mais lá para a frente que agora não me dá muito jeito. E já tive amigo assim para o normais. Agora só tenho conhecidos e em conversa com um, fiquei a saber que a filha, chavala de 14 anos, já sai à noite. Conversa puxa conversa (que isto de falar com conhecidos é mesmo assim, a gente tem que puxar muuuuuito) e fiquei a saber que a adolescente (yeah, right) também foi a um concerto. Saiu numa Sexta para regressar no Domingo.
E foi esta conversa que me deixou à beira dos sessenta anos e cheia de bicos de papagaio. Ou então é só a minha natural falta de paciência para coisas com fundamentos de merda. Não consigo ter paciência para os miúdos de agora que decidem crescer muito depressa. Ou para os pais que o permitem e acham que a extrema liberdade é o melhor porque proibir não adianta. Para a autonomia que os tempos modernos lhes dá. Da pseudo emancipação que a falta de tempo e o modernismo dos pais dão a estas crianças cujos calções deixam ver as bochechas do rabo, usam o perfume do Justin Bieber e pintam as unhas de encarnado. Miúdos que saem até mais tarde do que eu, que bebem mais do que eu e que fodem mais do que eu. Crianças que falam do poder sexual que exercem sobre o sexo oposto (Vi isto numa entrevista um dia destes e ia vomitando). Miúdos mal educados e com a sensibilidade de um molho de brócolos. Tudo isto me causa transtorno e eu não me posso transtornar que tenho que produzir leite e transtornos podem impedi-lo.
Eu sou do tempo em que uma chapada no focinho servia muito bem para proibir e garanto-vos que funcionava. Sou do tempo que se respeitava o outros e se era bem educado. Do tempo em que beber, fumar e sair à noite era só depois de se crescer e tal não prejudicou em nada o meu desenvolvimento nem sou uma adulta com traumas por causa dessa "lacuna". Sou do tempo em que se ia para a escola para efectivamente aprender e não para desfilar as mamas e pernas. Sou do tempo em que se explicava com um cinto o que uma conversa não conseguia. Sou do tempo em que se adquiria um outro estatuto quando se andava à porrada com o fulano que nos tivesse apalpado o rabo. Do tempo em que para se passar a noite em casa de uma amiga, obedecia a um exasperante protocolo que incluía tanto alínea que na maioria das vezes desistíamos do pedido. Do tempo em que os pensos higiénicos coexistiam muito bem com as barbies e diários cor de rosas fechados a cadeado. Do tempo em que se gostava de ser criança e que ninguém tinha pressa de crescer porque ser adulto não tinha graça nenhuma.
Esse conhecido não entende esta minha postura até porque sempre me conheceu rebelde. O que ele não sabe, porque nunca se preocupou em saber, é que esta rebeldia é coisa ponderada. É coisa com rede em baixo. É coisa com plano b. É postura com paraquedas às costas. É inconsequência consciente. Fui uma criança muito feliz, cheia de regras e consequência e devido a isso sou a adulta que hoje sou, um orgulho para os meus.
Tenho um filho, eu sei. Gajo, graças a todos os santos. Ainda faltam muitos anos para ter de me preocupar com estas coisas, mas é melhor começar já a dar uns toques que estas fulanas de agora comem-me o puto em três tempos.
Agora digam-me a ver se sou a única reformada com esta idade:
O facto de os miúdos estarem perfeitamente informados acerca de tudo quanto é considerado "risco", torna-os imunes aos mesmos? Só lhes acontece o que eles quiserem que lhes aconteça uma vez que estão muito informados e tal?