Continuamos em rotina boa mode.
Como o miúdo nasceu antes do tempo, tenho que o acordar para comer. Não há discussão; de três em três horas a casa acorda. Seja de noite, seja de dia, tuda a gente acorda que eu cá não sou nada egoísta. Não chateia ninguém, come o que tem que comer, arrota logo, a seguir um xóxó (eu não digo que o meu gajo é um anhuca? Isto é a maneira carinhosa que ele encontrou para apelidar as cagadas do filho), uma fralda limpinha e lá vamos nós, quase em voo, para a cama, para adormecer num instante, à espera do novo ciclo.
Gosto de lhe dar banho à noite, depois da última mama. Às vezes fico confusa porque nunca há uma última mama. Daí a três horas há sempre outra. Designei que a que tem lugar após o jantar é a última e dou-lhe banho antes. É rapaz que aprecia o seu banhinho e tem sempre vontade de uma xixoca (xixi, na lingua materna do pai, o parvalhês) para cima do pessoal e para cima dele inclusive, sem grandes alaridos, gosta do seu creme do corpo, da massagem a que tem direito e de largar o seu peidito quando chego à barriguita. Pelo meio faz sonecas ferradas e para o acordar é que são elas. Olha para mim com uns olhos do tamanho do mundo. Gosta de festinhas nas sobrancelhas e sorri. Mas sorri tanto que é impossível que o faça involuntariamente. O pai diz que sou parva, que é muito cedo, mas eu é que sei e o que sei é que ele sorri porque vê, sente e cheira a pessoa mais importante na vida dele e o enconadinho (se a outra tem um arrumadinho, porque é que eu não posso ter um enconadinho??) fica todo mordido com a importância que ainda não tem e desmonta-me as alegrias desta maneira tão infantil.
Lentamente as coisas voltam ao seu lugar. Menos o meu rabo e coxas e mamas e borbulhas, porra, tanta borbulha, resumindo, toda eu. Isso acho que vai muuuuuuuuito lentamente. Para terem uma ideia, tive uma borbulha tão grande no pescoço que é um sítio tão bom como outro qualquer para se ter uma borbulha, mas tão grande, que não conseguia mexer o pescoço. Um gajo pensa que depois de parir pode finalmente parecer menos anormalóide ao voltar a sair à rua com as suas amigas, as lentes de contacto, em vez destes óculos lindos de morrer mas que me fazem uma cara de monstro das bolachas que faxavôr, mas afinal não, talvez depois de amamentar. Depois.
De amamentar.
Depois.
Talvez.
No meio disto tudo, tive finalmente direito ao meu presente por ter parido com distinção que tão cedo não vou poder gozar. Não posso simplesmente voltar ao sítio onde passei a lua de mel e casar de novo enquanto a criança for deste tamanhinho, que Las Vegas não é ali, ao virar da esquina.
Ainda diz ele que quer uma menina já, já. Pudera, não é ele que tem que mamar com a bucha.