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39

por Filipa, em 27.10.13

Hoje é dia 27 de outubro e tal como acontece de há 39 anos para cá, é dia do meu aniversário que é como quem diz opá, estou tão fodida e para o ano ainda vou estar mais.

Gosto de fazer balanços não nos réveillons que estou bêbeda demais para isso, mas quando faço anos. Acho mesmo que um ano novo acontece e passo este dia cheia de esperanças em cenas melhores.
Este ano passou a correr. Engravidei e dei à luz um leitãozinho fofinho, fofinho que é a minha cara chapada. Casei aqui e como se não fosse pouco, casei ali que é como quem diz, fui casar num instantinho ali a Las Vegas. Com o mesmo homem, é obra. Mudei de casa, recebi um novo companheiro no nosso lar, o Guedes, o gato pára-quedista, desvinculei-me de uma empresa filha da puta, que me enchia a cabeça de brancas e não trabalhei um único dia desde então. Fui antes paga para fazer o que amo. Fui a mais concertos do que me orgulho (estava barriguda e talvez não tenha medido bem as consequências. Talvez). Engordei. Emagreci. Engordei e fiquei neste lastimoso estado e este gajo não me ajuda em nada e diz que estou bem boa. Chorei. Meu deus, como chorei, como chorei, não, como choro. Olho para o miúdo, emociono-me, olho para as fotos que me mostram como ele está texugo e emociono-me, cheiro-o, emociono-me, olho para a roupa que nunca mais me há-de servir e emociono-me, olho para a minha gaveta das cuecas e emociono-me. Uma choradeira. Se estiver por aí alguém que tenha passado pelo mesmo e que já se tenha recuperado, dê sinal que eu preciso mesmo de saber que isto é reversível. 
Acho (não nos vamos agarrar a esa hipótese como se estivéssemos a cair, ok?) que estou uma gaja muito mais dócil e menos raivosa. Acho. Já não mordo e já vou tolerando os velhinhos e crianças barulhentas, gajas parvas e pitas rebarbadas, vizinhas cuscas e condutores que nem uma simples rotunda sabem fazer, polícias sem o mínimo de instrução que nem eles próprios sabem como chegaram ali. Continuo a achar, contudo, que deus é um brincalhão do cacete e no último dia deste meu ano tão jeitoso vem-me com a conversa de que Lou Reed tinha partido. E eu, que me iniciei nesta cena da música à séria, de música de gente adulta e com gosto, com as músicas de Lou Reed, emociono-me.
O Lourenço, o tal que mudou de sexo, ficou com o pior dos dois mundos:
Quadrilheiro do das mulheres e anormalóide do dos homens.


Haja alegria.

por Filipa, em 20.10.13
Passaram dois dias desde que Ella saiu da clínica e ainda parece que está com uma bebedeira daquelas à antiga.
Não se segura nas patas, vai contra os móveis, as ombreiras das portas, à mesa da cozinha, da sala e hoje cagou no bebedouro da Chanel que achou aquilo uma afronta e cortou relações com Ella. Antes de ver os cagalhotos a boiar na água, pensei que também a cadela estava a enlouquecer. Ladrava para o recipiente e rodopiava e rosnava e eu sei lá. Depois vi que era só merda a boiar e fiquei muito mais descansada. Está periclitante esta amizade. A bicha está desorientada e eu estou pior ainda. Tem uma costura sem pontos visíveis, ou seja, visualmente parece colado e eu morro de medo que aquilo descole e que a criatura me ande a espalhar as entranhas casa fora, a encher tudo de sangue e me morra seca aqui num canto qualquer. Para o prevenir ando sempre, mas sempre com Ella ao colo e transporto-a para onde acho que ela precisa de ir. Levo-a até ao seu wc, levo-lhe o comer à cama. Não à cama dela, mas ao sofá de pele que ela definiu como a cama perfeita para a sua recuperação. Eu anui que a pussy está frágil mas estou sempre à coca de eventuais unhadas no meu fofinho sofá. Levo-lhe água, fiambre e queijo enroladinhos que Ella tanto gosta, mantenho o Guedes longe que o fulano quer é rolê, enfim, já tinha pouco com que me ocupar e ainda arranjei este part time. À noite é pior. Ella não quer ficar sozinha, Guedes não quer ficar sozinho, Chanel não quer ficar sozinha e eu tenho que arranjar estratégias para que as noites se passem calmas. Resolvi que petit Guedes, que é um autêntico gâteau (eu sei, eu sei, foi bué seca, mas que se lixe, é o que se arranja), dormia com Chanel e Dior e que Ella dormia comigo e assim tem sido. Pobre gâteau que de manhã vem a pingar baba das lambuzadelas que as duas malucas lhe dão all night long, mas no fundo, no fundo, o tipo até gosta. Mas o que interessa é que está a recuperar bem e já se aventura num saltinho ou outro, para desespero meu.
Tenho sempre uma animaçãozinha ou outra na minha vida, conforme se vê. Para a semana há outra que me está a deixar em ânsias, vómitos e pequenos apontamentos depressivos.
O cabrão do meu 39º aniversário.

Foda-se.

...

por Filipa, em 18.10.13
Não dormi nada a puta da noite inteira.
Acabei de levar a Ella ao veterinário para uma esterilização e caralhos ma fodam se não estou fartinha de chorar por causa daquela ingrata dum cabrão. A criatura parece que adivinhava. Ontem à noite aninhou-se no meu colo enquanto eu assistia televisão e seguiu-me até ao quarto, quando me fui deitar. Enquanto deitava o João reparei na fulana em cima da cama, no meu lado, deitada ao lado da minha almofada e aí ficou, durante toda a noite. Eu acordava de hora a hora e às vezes nem isso, fazia-lhe uma festa e a gaja desatava num ronrom que me trazia as putas das lágrimas aos olhos.
E se alguma coisa correr menos bem? Devia ter-lhe dito que esta casa não é a mesma sem ela. Que gosto tanto de a ter por cá. Que o Guedes já a desculpou e desde que ela foi que não pára de miar. Que o João gosta de a ter à porta do quarto, muito atenta a tudo, tipo gato de guarda e que quem quiser entrar que se desvie que ela parece um gato de loiça. Que vou deixá-la lamber água da torneira do bidé, sempre que for à cada-de-banho e ela for a correr atrás de mim. Que lhe vou dar comida à descrição e cagar nas gramas que o veterinário acha certo. Que vou apresentá-la ao Canário, o Meireles.Que não ligo mais o chuveiro quando a vir na banheira. Que não lhe dou mais com o chinelo quando ela afiar as unhas no cesto da roupa. 
Pronto, ok, não exageremos, dou-lhe com a mão, pronto.
E já estou a chorar outra vez, foda-se.

...

por Filipa, em 14.10.13
Isto anda um bocadinho mortiço e não é coisa que me incomode. Pelo contrário. É por demais sabido que me exauro com o mal que as pessoas possam pensar a meu respeito, nomeadamente da minha maneira de estar e ser. Posso, por isso, não ser politica nem socialmente correcta porque não estou sujeita a julgamentos-outra coisa que me corrói, saber que os outros me julgam.
Enjoo das pessoas a uma velocidade perigosíssima. Esta malta vem ter comigo amiúde para desabafar ou assim e estou em crer que tal se deve à minha cara de miúda doce e preocupada com o próximo. Não vejo outra explicação. Por muito enfado que mostre, por muito que olhe para o relógio e que diga "então, vá", não vale a pena. O meu olhar amendoado e reconfortante parece que diz o contrário e enchem-me os pacová com merdas inúteis e eu não tenho paciência. Não estou com paciência para ser amiga, deve ser isso. 
Há coisa de algum tempo decidi ser muito radical e cortar com algumas coisas que me andavam a fazer mal..
Por exemplo, primeiro foi a Coca-cola. Bebia imensa Coca-cola durante o dia e decidi deixar, mas assim à bruta, sem desmame nem nada, hãn?, e comecei a reparar que andava com menos gases.
Depois os muitos cafés e além de mais calma, dormia muito melhor e já se sabe como um soninho descansado e reparador se reflecte na cútis. Nem olheiras tenho, um espectáculo.
Depois os elevadores. Subi uma vez os onze andares do prédio do meu escritório e decidi deixar esta para depois que muitas metas juntas podem muito bem fazer com que uma pessoa se desfoque do verdadeiro propósito.
Depois, alguéns. Umas espécies de amizades que nunca me serviram e vejo que o problema, o meu problema, ao fim ao cabo, é a pouca capacidade que tenho de levar as coisas até ao seu verdadeiro fim porque tenho receio de nos entretantos me arrepender. Porque falar é simples, as coisas são naturalmente descomplicadas, facilmente reposicionáveis e o céu muito mais azul e brilhoso. Mandar as pessoas à merda é que é do cacete. E eu decidi mandar algumas.
Ahhhh, quem quero eu enganar?, óbvio que não estão a entender nada. Quereis um paralelo para o perceberdezes melhor? Ei-le-o:
Um dia acordei e fui à janela com uma xícara de café na mão, dei uma passa num cigarro e senti-me mal. Apaguei o cigarro e não mais fumei. Um ano e oito meses depois, estou muito mais leve e feliz.

Acho que já me dispersei um bocadinho, mas isto anda mortiço, ninguém vai dar conta.

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