Hoje é dia 27 de outubro e tal como acontece de há 39 anos para cá, é dia do meu aniversário que é como quem diz opá, estou tão fodida e para o ano ainda vou estar mais.
Gosto de fazer balanços não nos réveillons que estou bêbeda demais para isso, mas quando faço anos. Acho mesmo que um ano novo acontece e passo este dia cheia de esperanças em cenas melhores.
Este ano passou a correr. Engravidei e dei à luz um leitãozinho fofinho, fofinho que é a minha cara chapada. Casei aqui e como se não fosse pouco, casei ali que é como quem diz, fui casar num instantinho ali a Las Vegas. Com o mesmo homem, é obra. Mudei de casa, recebi um novo companheiro no nosso lar, o Guedes, o gato pára-quedista, desvinculei-me de uma empresa filha da puta, que me enchia a cabeça de brancas e não trabalhei um único dia desde então. Fui antes paga para fazer o que amo. Fui a mais concertos do que me orgulho (estava barriguda e talvez não tenha medido bem as consequências. Talvez). Engordei. Emagreci. Engordei e fiquei neste lastimoso estado e este gajo não me ajuda em nada e diz que estou bem boa. Chorei. Meu deus, como chorei, como chorei, não, como choro. Olho para o miúdo, emociono-me, olho para as fotos que me mostram como ele está texugo e emociono-me, cheiro-o, emociono-me, olho para a roupa que nunca mais me há-de servir e emociono-me, olho para a minha gaveta das cuecas e emociono-me. Uma choradeira. Se estiver por aí alguém que tenha passado pelo mesmo e que já se tenha recuperado, dê sinal que eu preciso mesmo de saber que isto é reversível.
Acho (não nos vamos agarrar a esa hipótese como se estivéssemos a cair, ok?) que estou uma gaja muito mais dócil e menos raivosa. Acho. Já não mordo e já vou tolerando os velhinhos e crianças barulhentas, gajas parvas e pitas rebarbadas, vizinhas cuscas e condutores que nem uma simples rotunda sabem fazer, polícias sem o mínimo de instrução que nem eles próprios sabem como chegaram ali. Continuo a achar, contudo, que deus é um brincalhão do cacete e no último dia deste meu ano tão jeitoso vem-me com a conversa de que Lou Reed tinha partido. E eu, que me iniciei nesta cena da música à séria, de música de gente adulta e com gosto, com as músicas de Lou Reed, emociono-me.