é sair-me um prémio qualquer, não precisava de ser muito, só o suficiente para não trabalhar mais para patrão nenhum. Depois, no meu último dia de trabalho, apresentava-me com o meu melhor vestido preto, os meus stilettos mais altos, maquilhagem e cabelos irrepreensíveis, o meu sorriso mais alvo e era ver-me a receber os clientes habituais, os que pedem um café sem princípio, em chávena escaldada e um copo com água fria, ou um descafeínado até meio, em chávena fria e com dois pacotes de açúcar, os das tostas mistas só com queijo, os que pedem para tirar o creme das bolas de berlim com creme, os do galão com descafeínado sem princípio e só até meio com adoçante, os que se queixam do rock, do pop, do heavy metal, do fado, os que me acusam de não estar com atenção às suas indecisões, os que contrariam as minhas certezas, os que me fazem respirar fundo e revirar os olhos, os que me confundem depois de me ter desdobrado em atenções, os que me menosprezam porque ando de avental sujo com a farinha do pão, os que não me ouvem sequer, os que confundem o meu nome, os que mostram enfado pela minha boa disposição, os que não me levam a sério devido ao meu ar de miúda, os que me aborrecem com os obstáculos não legais, os que tentam fugir às suas obrigações, os que tentam que eu fuja às minhas, recebia-os a todos e enquanto lhes servia o último cafézinho, o melhor, das arábias talvez, com o açúcar mais rico e mais puro, perguntava-lhes:
E no cu, gostas?