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Desde o trail a Fátima que me sentia-me abaixo e fui falar com a Filipa. Paçou-me um cartãosinho para as mãos, com uma atitude muito suspeita, como senão quizesse que ninguém visse, estão a ver? e ao mesmo tempo como quem passa um tesouro lindo e brilhante e disse-me "diz à madame Rosa Branca que vais da minha parte".
Olhei para o cartão e vi que ela me amandava para uma consulta de coisas muito estranhas e alternadoras, tipo uma medicina diferente, sem sangue e seringas e essas coisas nojentas que até podem passar doenças sexualmente transmitidas, como os pombos e ratazanas e assim.
Bom, lá fui eu, meti a tarde e fui no 28 que o passe que a Filipa afinal acabou por me pagar dá para Portugal inteiro. Tenho mesmo muita sorte em tela como amiga.
Entrei e o cheiro a incinsivo era tão forte que me deu uma quebra junto com um ataque de osmose tal que fiquei logo ali estendida. Quando me vim a mim, estava numa coisa comprida e dura que acho que era uma marqueza às segundas, quartas e sextas -que era quando a Sara Marisa tinha as marcasões das depilasões a quente- e nos outros dias: terças, quintas e sábados era um divãm em que os doentes alternativos se assentavam e falavam um pouco com a madame Rosa Branca. Aos Domingos fexava para descanço do pessoal.
A madame perguntou-me coisas cá do meu particular, como seja o caso do meu númaro de contribuinte, quantos dedos é que eu tinha nos pés, quantas vezes piscos os olhos, se as vezes que inspiro são as mesmas que expiro -eu disse que não, né?, óbvio que quando acordo começo por um, logo o outro fica em desvantagem, dah!- enfim, perguntas muito modernas porque estas medicinas são bué àfrente, até que perguntou:
- A Carla fala muito, não fala? É que tem mesmo o dom da escrita!
Eu aqui estranhei logo um bocadinho: ´tão se falo muito não devia ter o dom do oralmente? Mas depois alembrei-me da Filipa e que se ela me tinha arrecomendado a madame é porque a madame sabia aplicar esta especialidade como deve de ser.
- Impressionante, Carla, é que tem mesmo o dom da escrita!! As cartas, os búzios, as borras, o ranho, a alpista, o pó, a chuva, o fado dizem que sim.
E eu, desconfiada, pensei logo: ai caraças que esta gaja sabe quem é a "Carla, a empregada doméstica", mas disfarsei muito bem, como só eu sei:
-sim, sim, escrevo para aí desde os meus cinco anos. Comecei pelo meu nome e até chigar a este patamar foi sempre a subir"
- E escreve para expressar os seus sentimentos e emoções, não é?
- Na verdade, não. Escrevo para não me esquecer do pão, da lixivia, do compal magalaranja, de ir à mercieiria comprar cera pensserar os tacos.
- E o que faz com as suas fraquezas?
- Ah, essa é fássil. Trago o carrinho do supermercado mesmo até à porta de casa que tenho aqui um desviu da coluna, por acaso a madama não trata érnias, não?
-A verdade é que vejo aí imenso potencial... Vá, deite-se ali naquela marqueza que temos uma depilação meia-perna/virilhas fora de horas.
E pronto, sai da marqueza da madame Rosa Branca melhorzita das costas e chigamos á conclusão que temos amigos em comum, o juka, da polícia municipal, que dá um jeitasso quando os carros são arrebocados ou abloqueados. Já conheço o juka pra cima de 25 anos, costumo chamálo de meu amigo lá debaixo, se é que mentendem...