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A partir de agora deixo de ser consultada no particular e passo a ir ter com aminha  médica (não podia ter escolhido melhor, já agora. É só um bocadinho freak, mas se se tiver em conta a quantidade de bichanas que a criatura tem que ver, explorar, diagnosticar, medir, avaliar, abrir, coser e outras cenas igualmente assustadoras, facilmente se chega à conclusão que é condição sine qua non (e esta agora foi muita bem metida, têm mesmo de o reconhecer) para exercer. Bom, deixem-me que espalhe aos ventos que ir ao hospital Amadora Sintra é uma experiência absolutamente deliciosa. Há por lá uma fauna e respectiva flora que dificilmente se encontra noutro lugar. Reflexo da zona que abrange, não sei, mas o que é certo é que o people de lá se dá à morte no que ao preconceito diz respeito, que é uma coisa doida. Dei por mim, para me entreter, a apreciar a variedade de culturas existente num tão pequeno espaço comum e c'o a breca!, aqui está um excelente passatempo para os dias de canícula e para quem precisa de se ocupar com alguma coisa que instrue, ocupe saber, que faça a caixa pensadora trabalhar ao vapor e assim. 
Primeiro, o conforto que o ambiente proporciona a quem entra num hospital e está, obviamente, numa situação delicada. É uma atmosfera perfeitamente avassaladora tendo em conta as mais de trezentas pessoas na sala das urgências daquele hospital com a ginja em cima do bolo que é não existir ar condicionado. Não tenham em conta a exactidão dos números. Comecei a contar mas entretanto perdi-me. Os senhores que mandam naquilo são uns brincalhões. Sabem que mais de metade são pessoas de raça negra cuja característica maior é o seu, digamos, aroma natural e foda-se, uma pessoa morre sem se aperceber, no meio daquele fedor. Se vasculharem pelo meio aposto que encontram mortos que ao tentarem fugir do cheiro, ficaram para trás, alguns por certo abandonados pelos companheiros que, em apneia, tiveram de optar. Ou a vida ou talvez ele próprio e a do companheiro. A escolha é evidente.
Depois a roupa. Algo de errado acontece mal esta gente acorda para saírem assim à rua. Para além da óbvia dificuldade em pagar as facturas da água, existe uma periclitante consciência na utilização de diversos padrões e texturas, porém geral. Ou seja, o grande grosso aventa-se de casa com a primeira merda que encontra no chão e sai assim, como se fossem autênticos excêntricos e a merdosa conjunção fosse algo de muito em voga. Não é. É só ridículo. Não é preciso ter dinheiro para andar decente. É só preciso ter brio. Deviam distribuir dicionários à medida que distribuem as ajudas sociais e haviam de ver o Portugal mais culto, apesar de porco.
O mesmo se passa com as centenas de grávidas que comigo partilharam o ar pesado, quente e fedido. O estarmos barrigudas não é sinónimo de poder tudo. Pelo contrário. Havia de estar escrito nas nossas cadernetas, logo nas primeiras folhas, proibições básicas tais como: 
É totalmente proibido vestir leggings com tops.
É expressamente proibido usar a roupa de não grávida em barrigas gigantescas.
Barriga ao léu pode mas com moderação. Não a vamos mostrar ao mundo porque aquela camisola xs que usávamos antes, está pequena mas teimamos em esticá-la muito para além do limite.
Leggings, meu deus. Que se passa com as leggings e as grávidas?? 
Os velhos. 
É conhecido o pequeno quê que tenho contra eles e naquele hospital os velhos são mais velhos que nos outros sítios. E mais chatos. E mais rezingões. E mais carochos. Por exemplo, vinha um casal a sair. Ambos de muletas mas o homem em pior estado que a senhora. E ela queria ir ao bar comprar uma água e ele não queria, queria ir-se embora, bebes em casa, e se não te calas bebes e comes e a senhora, mulher do norte fica o pé e eu tenho sede, pá!, quero água e ele, cara de ruindade, corpo vergado pelos anos duros ou simplesmente pelo karma, faz-me engasgar enquanto bebo a minha própria água quando manda as suas muletas ao chão e em gritos, vomita um puta que pariu ao raio da velha que não se cala, han? A velhinha resignou-se, engoliu a sede, apanhou as canadianas e foi levar no focinho no recato de seu lar.
É quase transversal a questão marmita. Quase toda a gente leva alguma coisa para trincar enquanto esperam por uma consulta marcada há um século, que já se sabe que o Português só está bem a comer... Para depois fazer dieta. Nada contra, a não ser os bancos que ocupam com sacos e saquinhos, garrafas e copos e panos e croquetes e rissóis e o caralho. Outro segredo dos deuses é a necessidade que esta gente tem em levar crianças para o hospital sendo que não vão ser consultadas. Alguém precisa mesmo da companhia dos filhos (tantos, mas tantos que esta gente curte deixar a geração recheada para fazer deste país alguma coisa de jeito) para ir ao hospital? Alguém acha normal levar crianças para um ambiente daqueles? Vamo-nos agarrar a esta questão como se estivéssemos a cair, e aproveitemos para reflectir um pouco acerca disto mesmo.

Tenho uma veia artística em forma de escrita, bastante latente, é o que aufiro após a revisão deste texto que não fiz nem vou fazer.
Ora tomem e embrulhem.

1 comentário

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De Pipoca Mais Picante a 31.07.2013 às 12:47

Fui lá uma vez, entregar muitas roupas e brinquedos, eram duas carrinhas cheias, o segurança deixou-me parar à porta, onde ninguém pára, mas praticamente só me cruzei com as voluntárias, tias de alto gabarito. Essa fauna enfia-se toda nas urgências, que ao médico só se vai quando se está mesmoooo doente. Os poucos que vi, saíam das consultas regulares, não consegui formar uma imagem verdadeiramente rica da coisa.
Diga-me por favor que não vai parir aí. Sei de alguém que o fez, as histórias da enfermaria são de rebolar a rir.

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