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"Amizades al dente
É normal as pessoas morrerem-me, não percebo muito bem as caras que vejo quando o digo, sinceramente. E morrem-me pelas mais diversas razões sendo que a mais premente é o factor "apetece-me". As pessoas que me morrem são as que me chegam com prazo de validade, pessoas com as quais eu já sei que vou ter história breve porque pouco ou nada têm para me acrescentar, pelo contrário. E não, não se aprende sempre algo com quem connosco se cruza. Merecem-me poucas considerações além da certeza de que podia muito bem ter gasto o tempo que perdi, a aprender a ser uma melhor dona de casa que assim não fazia do homem o meu criado. Quando as pessoas me morrem não lhes sinto a falta, não lembro momentos bons, não recordo cafés, jantares, saídas, nada. Todo o luto é feito de alívio, saltinhos e sossego. Aconteceu ja ter perguntado a mim mesma algumas vezes porque deixo chegar este tipo de relações ao ponto de lhes fazer luto, ao que respondo, com um sorriso tranquilo na minha cara de bolacha, sou uma altruísta, eu. Tudo por amor ao próximo. Contudo, o meu amor é defeituoso: posso amar muito, mas gasto tudo muito rápido. Não sei deixar um bocadinho para amanhã, não sei amar incondicionalmente, não sei levar no focinho e dar a outra bochecha, não sei aceitar sem compreender. Não sei dar o braço a torcer quando entendo que não é o meu que deve torcer. Não sei voltar quando me deixaram ir. Não sei ser boa quando me querem má. Há pessoas que me morrem e escolhi o meu blog para me ver livre das suas cinzas porque são pessoas que continuam a saber de mim desta maneira, tão pequenina e traquina. Cobardemente, invadem-me a pseudo privacidade que aqui tenho, para me lerem a alma, para saberem de mim, quando na vida real, na que interessa, fingem que não querem. E é quando me morrem mais um bocadinho, quando eu pensava que tal já não fosse possível. Poderão então continuar a ser uns cagalhões que para aí andam que eu cá continuarei a contar das minhas cenas à minha maneira para alegrar os dias aos penicos. E Deus sabe a capacidade que me deu de falar, falar, falar e não dizer nada de concreto.
As pessoas morrem-me, não sei se já vos tinha dito, paciência."
Paz às suas almas.