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Eu no conjelador do meu visinho

por Filipa, em 30.05.16

(Isto aconteceu mesmo á coisa de um quarto de hora mas parece que aconteceu em 2010)

Tenho uma vizinha da frente que tem um marido. Até aqui, tudo bem.

Somos da mesma idade -é super importante esta factor, como sabem.

Importante para tudo, até para ir ao mechilhão: niguém quer andar ali de cocuras, a fazer buraquinhos na areia com os pés, com alguém muito mais velho do que nós. É que é subexamente conhecido o facto do cheiro a xixi espantar os mechilhões e estes, mal dão pelo odor, escavam para baixo e há relátos hestóricos de mechilhões e conquilhas que chigaram ao núcleo da terra. Depois ficam ali entalados e é também por isso que o buraco do azono tem tado a aumentar. A estaratósferica não aguenta com tanto marisco entalado por causa que os velhos cheiram a mijo e assim, por isso é que os gastronómicos afirmam que ela está cada vês mais aboulada- Até aqui tudo bem também.

Temos mais ou menos o mesmo corpo, chiguei a imprestar-lhe roupa minha e tudo. Ao meu vizinho. Não esteijam com esse ar de acusação, seus preconsseituosos da treta! Que não se volte a repetir, tá?? Já dizia Fernando Peçoa que "O silênçio é um amigo que nunca trai."

A minha vizinha tinha trinta e tal anos e estava grávida de quatro dias, coitadita.

Com tanto ponto de referência -na altura pensava que também estava grávida do mesmo tempo, mas depois de umas gazadas percebi quetinha sido pão a mais-, nada mais normal que a nossa relação de vizinhança ter evoluído para a de amizade.

Ora tudo comessou num dia em que eu tive de emprestar a minha carrinha de sete lugares ao meu vizinho para ele levar a mulher ao hospital de Almada para ser operada a ume érna pascal. Um carro de cinco não chigava por causa que a érna ocupava muito espaçio.

O prognóstico eram quatro anos e três dias de internamento. Isto das listas de espera está mesmo pela hora da morte, vocês não têm ideia de como está o cerviço nacional de saúde.

Lá deixou a mulher no hospital e o seu filhinho de cinco dias -passou uma data de horas só para lhe asseitarem a entrevadinha- e veio para casa. Ora umas chamadas aqui, umas chávinas de açucar ali, e um trólóló aqui e um mimimi ali e já estão a ver o filme todo, né?, comprava-lhe pão de queixo, pentelha-va-o, cortava-lhe as unhas dos pés, aparava-lhe a barba, rapava-lhe os pelos dos assovacos, mas "assério" nada de cortar a fingir, han? que se não ficava tudo a sado e depois tinha que lhe por creme e isso podia dar asso a outras coizas.

Aconte-se que mesmo sem o besuntar todinho com niveia azul, chigou aos ouvidos da mãe do irmão dela que estas coisas absolutamente banais de acontecerem entre vizinhos cordeis estavam a acorrer entre nós dois e apesar da entrevadinha -na altura já tinha parido á dois anos e meio mas continuava enternada mais a sua érna- estar apar de tudo, nós fasiamos questão de ir mandando sms á medida que íamos fazendo as coisas. Assim do género:

Se fosse ele:

"mor, vim komprar meio kg de peixe espada preto p grelhar pó almoço com a Karla. Dps passamos a tarde na piscina e á noite vamos à kadok. Amo-t mt. smp a pensar em ti"

Se fosse eu:

"Vizinha, o xxxx gosta mais de massagens nas costas ou nas cochas? Hj chigou tão tenso do trabalho. E gosta mais á bruta ou devagar? A massagem, claro. As melhoras e não se preocupe com nd q eu trato d td. Bjs"

 

Opá, isto durante quatro anos, não estão bem a ver a fortuna que se gastou em mensagens, mas prontos, o que uma pessoa não faz pela vizinhança, não é? O sacrifissio que se tem que fazer para manter as melhores relações com os vizinhos ás vezes trazem fracturas muito altas, iletralmente.

Ora num feriado antes de sairmos passei por minha casa a ver se os meus gatos ainda estavam vivos, uma vez que já não me alembrava da última vez que lá tinha ida dar-les comer, quando olho pela janela, só para ver se podíamos sair em segurança -não foçe chover, claro- quando vejo a mulher dele com a érna pascal num frasco cheio déter, o filho, que com quatro anos já chigava à campainha- olhem!, sem perceber como, fui mandada para o conjelador junto com a minha mala Channel e os meus sapatos chmi-shu.

Com o frio o meu coração começou a querer parar de bater mas eu amanda-va uns murros assim jeitozos no peito e ele lá vinha á vida. Ainda consigo encontrar forssas para desligar os 7 telemóveis que uso e é quando encontro na minha Channel um isqueiro, um tronco de nogueira, uma embalagem de incendalhas, um correio da manhã, um fole, uma chourissa, uma merssela, duas pinhas, um espelho e um gloçe.

Desponho aquilo tudo por ordem analfabética -ainda perco algum tempo e por isso mesmo tenho  que aventar mais duas ou três socos no peito por causa que o coração esta-v-a-seme a ir-se- fico a olhar e tento entender o que Deus quer que eu fassa com aquilo enquanto lhe pergunto:

"o que será pior, meu Deus? a vizinha vir buscar um douradinho do capitão iglo para o miúdo ao conjelador e ver-me aqui a açar chourissas e de chmi-shus nos sovacos ou eu ter-me portado como uma mulher séria, coisa que não está, de todo, nos meus genes??"


Não sei porquê, Deus não me respondeu.

Enquanto estava neste monólogue com o criador, começo a juntar as pessas do pazle e comesso a perceber o que é que ele queria que eu fizesse.

Pozisiono o tronco no meio do conjelador, meto umas incendalhas por baixo e outras por cima, as pinhas, forro tudo com o jornal e comesso á procura do sol com o meu espelho porque eu aprendi nos livres que era assim que aqueles senhores que não usavam cuecas e que siguravam o cabelo com os ossos dos bichos grandes que cassavam com setas e a sangue frio, faziam fogo prós a ssar.

Duh, Carla -penso- estás num congelador! Está tudo escuro. Ainda se tivesses na parte de baixo do frigorífico, podias abrir a porta que a luz ainda sassendia e ao se arreflectir no espelho talvez uma chispa batesse no jornal, agora aqui não. Mesmo burra!.

Então, penso melhor e boto-lhe fogo com o isqueiro. Já que ali estou, penduro a chourissa e a merssela nos saltos dos chmi-shus e ponhoos em cima da fogueirinha que se formou, e ali fico quietinha a torçer para que ninguém dê por mim e que aquilo açe depressa que já estava com um ratito.

Enternanto foram ao Lidel porque as fritadeiras estavam em promoção, ainda foram a minha casa para eu ficar a tomar conta do miúdo mas como parece que eu não estava lá, tiveram que o levarem.

Ponho o gloçe, saio do conjelador e como ainda me sobraram carnes frias, fui fazer um cosido que ainda me deu para duas ou três refeições. Nunca se sabe quando vou ter outro vizinho em apuros, não é?

Ainda hoje nos telefonamos a rir disto, ai pá, foi mesmo um fartote, eu metome em cada uma.

Quem é que achou isto mesmo engrassado?


1 comentário

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De Alex a 30.05.2016 às 11:51

Tiveste sorte nos tempos que correm e ao que eu leio no Correio da Manhã tinhas sido morta. Mas não és a única a ter destas histórias. Aposto que quase todos os leitores da tua patroa já viveram episódios destes. Eu própria já me aconteceu, mas a mulher não foi hospitalizada, estava na Holanda num curso de 6 meses... e fui apanhada, não tive tempo de me enfiar em lado nenhum.... deu comigo e com o meu vizinho -tínhamos ido beber um copo a um bar que gostávamos, chegámos a casa e enrolamo-nos numa manta no sofá e a cabra da mulher aparece... a minha lingerie toda espalhada pela carpete da sala, as minhas sandálias numa mesa de suporte e as meias de ligas estavam já penduradas no candeeiro da sala.. só tinha vestido, mas descaído, o corpete que tinha comprado no Lidl ..... nem imaginas o que passei.. ainda hoje me lembro de ter saído daquela casa semi-nua e entrar no Seat ter acionado a centralina e a meio do caminho lembrei-me que me tinha esquecido da carteira e do pagamento que o meu vizinho me fazia por cada serviço.. só naquela noite perdi 30 € ( faço os serviços em conta , porque há sempre uma amizade que fica, uma cumplicidade que nunca se perde..) . Felizmente passado uns meses a mulher teve de voltar à holanda a buscar o certificado do curso -  sim, foi numa privada e pagou-o que , tal como eu nada quero do estado - tenho os meus cursos mas todos pagos sem ajuda do Estado só do meu papi. Mas dizia eu, a mulher regressou à Holanda, o marido mandou-me logo uma sms ..e eu não hesitei.. fomos logo às compras juntos, começamos a frequentar os mesmos bares, líamos os mesmos livros.. víamos os mesmos filmes.... e ainda hoje encontri cá na minha casa nova, volta e meia um sapato do vizinho, uma camisola, uns chinelos.. daqueles que até coloquei à venda no meu negócio on-line. É tudo uma questão de conversar, de ter educação e saber o lugar que cada um ocupa. Ainda hoje lhe compro o pão, lhe escolho a roupa... Por falar agora nele o meu vizinho tenho de ir lá a casa mudar-lhe os lençlóis e fazer uma máquina de roupa, depois á tarde tenho de ir à empresa do papi mandar mails, comentar blogs, para que tenha a noite livre e possamos jantar juntos..parece que a mulher dele anda enrolada com o meu maridão.. tenho as minhas fontes e isto não fica assim... mexo os cordelinhos e ainda os apanho... que uma coisa é prestar serviços, ser amiga e receber outra é andar com o marido das outras à borla. Eu mais tarde já te conto o que aconteceu em ...quando tive de fazer mudanças há pouco tempo. 

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