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Porque regressei aos blogues I

por Filipa, em 16.02.17

Porque isto de permitir peixeiradas no nosso território, depois de tanto embrace-my-horror-pelas-peixeiradas-credo, pode-nos dar jeito, uma vez que nos coloca numa posição que, de outra maneira, nunca lá chegaríamos.

 

Deus acordou e disse-me assim #1

por Filipa, em 16.02.17

"Minha filha, bem sei bem sei que andas mortinha por passares a ferro aqueles rapagões musculados que pedalam feitos loucos, mas sabes bem que eu, que tudo vejo e que tudo aponto neste caderninho das contas pendentes, não aprovo, eles não precisam de ajuda, sozinhos esbardalham-se que é uma maravilha. Mantém-te longe senão ainda és pessoa para teres de pagar estragos feitos por triciclos de merda ao teu rico carro. Bem sei que reviras os olhos e te exasperas quando tentas entrar num comboio da linha de Sintra e perdes anos de vida quando as suas portas se abrem e aquele bafo a caril marinado em chulé te abafa os brônquios e te obriga a apneias demoradas ao mesmo tempo que és arrastada, às vezes até em sentido contrário, outras apenas segues viagem com os pés a um palmo do chão. Também já vi que o metro te inflama o nervo, tu, que na maioria das vezes chegas a ser uma pessoa racional, afável e sem pensamentos homicidas, não entendo, um sistema tão funcional, rápido e tão em conta, até isso tu desgostas. Parece que tem a ver com o facto dos pobres assalariados, que os enchem pelas horas de ponta, sentirem um certo receio de não conseguirem sair a tempo na devida estação e serem transportados até ao buraco negro que o metro de Lisboa dispõe para situações e pessoas limite, como seja o caso de se perder a estação ou até mesmo pedir e dar licença para passagem. Por isso, não arredarem pé ali da zona da entrada, deixando todo um resto de metro livre onde até existe oxigénio, pessoas civilizadas e tudo. A isto tudo juntas os velhinhos nas horas da consulta do médico de família, nas horas em que apenas vão marcar consulta ao posto médico, nas horas em que vão pedir receitas, na abertura das farmácias, na abertura dos super e hipermercados porque os velhinhos têm sempre imensas coisas para tratar e gostam de o fazer exactamente nas horas de maior movimento porque nas outras horas não é a mesma coisa. Ou não vá eu lembrar-me de os chamar e eles terem lá as coisinhas deles desorientadas, e tens a puta armada. Entendo que não vás para nova, que este stress todo te tire fôlego para grandes caminhadas e que andar não seja propriamente uma hipótese válida para ti. Todos os dias te vejo como os bofes de fora apenas por fazeres os vinte metros que distam da porta da tua casa à porta do teu carro. Vais dizer que dás passadas largas, que levas uma criança em cada lado, os sacos deles que juntos pesam 912kg, às vezes os cães pelas trelas e eu bem vejo como esses cabrõezolas andam insolentes, a culpa é tua Filipa, trata-os mais como os teus próprios filhos, ouve o que o teu Presidente diz, tu deixa-os dormir na tua cama, criatura! Deixa-te levar pelas maiorias. Dorme no chão, troca de papéis, funde-te com os teus semelhantes, afinal eles não são coisas, são como tu, são como o teu João e a tua Luísa. No fundo são teus filhos, apenas não os pariste. Bem sei que os conas do trânsito te levam ao limite, mal sentem um pinguinho de chuva e não sabem para que lado se hã-de virar. Sei que essa jugular anda em constante estado de ebulição graças aos chicos-espertos, sobretudo os que não sabem fazer rotundas nem nunca saberão porque os únicos conhecimentos que têm do código da estrada é andarem coladinhos às traseiras dos outros, fazer rotundas conforme o mood e ultrapassagens que até a mim me dão azia. Assim sendo e porque quero que abrandes o ritmo, tenho visto que andas a pisar no acelerador como gente grande, e também porque com esse teu feitiozinho quero-te o mais longe possível de mim, vou colocar à tua frente apenas uma daquelas cadeirinhas de rodas eléctricas que parece que podem circular na estrada, com um condutor totalmente alienado do que se passa em seu redor, sem mostrar a mínima intenção de sair do meio da via. Alguém, algures lhe vendeu aquele milagre da deslocação e lhe disse que aquilo apenas funcionava se fosse para foder o que restava do trânsito, e a uma velocidade louca que oscilará ali entre os 2 e os 3 km/h que é uma velocidade ideal para quem tem um sistema nervoso tranquilo e perfeitamente controlado como é o teu caso.

Vá, agora vai lá à tua vida e lembra-te que estou a ficar sem soluções de transporte que te façam feliz, tarda nada estás a pedir-me a omnipresença, tu vê lá isso."





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