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Há já algum tempo que decidi que não mais iria escrever coisas sérias neste blog.

Por nenhum motivo assim em particular, apenas porque decidi que este haveria de ser um espaço que só de me lembrar dele, sorriria.

Mas de há dois dias para cá que ando aqui com um nó no estômago, uma raiva mal contida, uma merda difícil de explicar e decidi que havia de o escrever aqui. Quanto mais não fosse porque o assunto me mereceu algum tempo de meditação, debruçada sobre os valores desta geração, a apreciar um país que peneira muito bem as suas lutas -como as prioriza, será o terceiro segredo de Fátima- e a sentir um nojo cada vez mais profundo de pertencer a uma minoria, aquela que diz que sim, que ia, mesmo que não voltasse.

Falo, obviamente, do caso Urban e dos seus macacos de serviço.

38 são as queixas sobre esta casa de diversão -mais para os seguranças do que para os clientes, é certo- apenas este ano, fora as desistências. Não quero saber, nem me interessa, que raio terão feito as duas alminhas que foram agredidas até à exaustão por aquelas bestas de merda. Interessa-me o que vi e o que vi foi claro: dois seres humanos no chão a serem pontapeados onde calhasse por três chaimites, um deles entra a pés juntos na cabeça de um que há muito estava inconsciente. Não consegui ver até ao fim, estas merdas revoltam-me, sinto-me estranha, com instintos esquisitos. Enquanto ia olhando para as agressões, ia ficando cada vez mais parva com a quantidade de gente que assistia ao show. Lembro-me, por exemplo, de um casal abraçadinho, que romântico, aposto que quando forem velhinhos, cheios de netos se vão lembrar daquela noite no Urban em que foram uns perfeitos merdas. Lembro-me de outro conas que enquanto um dos seguranças libertava a fúria contida na cabeça de um ser humano, virou costas e foi à vidinha dele, em direcção à câmara que filmava a cena. O Português é extremamente solidário, mas desde que não dê demasiado trabalho nem chatice. Não me entra na caixa como é que aquela multidão toda não decidiu juntar-se para parar com aquele terror, pelo menos até a polícia chegar. Ninguém ainda me conseguiu explicar como é que a polícia, com 38 queixas daquela merda daquele antro, não põe uma patrulha a rodar pela zona de quando em quando, porque demorou tanto tempo a chegar nem tanto tempo a dar início ao expediente, muito menos porque é que foi preciso uma miúda filmar isto para que se conseguisse, finalmente, fechar aquele cancro.

E anda uma pessoa nestas consumições, ainda que no fundo saiba que as respostas morrerão solteiras, quando se lembra de ir ao Facebook ver como param as modas e tal. E é a pior coisa que uma pessoa pode fazer, é tipo uma dor de burro. A pessoa assusta-se, a veia hipocondríaca começa a latejar, googla dor+do+lado+direito+quantos+anos+de+vida e de repente já sente dificuldades respiratórias, tosse com especturação, a apêndice a querer estrangular, enfim, fujam do Facebook quando estiverem com os nervos em merda.

E dou com esta merda de todo o tamanho, um texto de sodôna Maçã de Eva, que com aquele jeitinho muito próprio a que já nos habituou, decide despejar por nós abaixo a sua poia e nós ali estáticos enquanto pensamos "naaaaaa, esta merda não é possível, hoje é dia 1 de Abril e eu estou é bêbeda e não dei conta".

Eu resumo rapidamente. Percebo que vos custe a abrir penicos:

Ela tem fontes que garantem que os mitras da zona que nunca estiveram dentro do Urban Beach (coloquei em negrito porque ela também o fez, apesar de não perceber muito bem porquê) e que são pessoas com mau aspecto e de extracto social diferente (tenho cá para mim que a vida lhe vai ensinar -porque os pais não foram capazes- que as pessoas não se julgam desta forma, mas é só um feeling, não nos vamos agarrar a ele como se estivéssemos todos a cair, han?) e como estes queriam fazer a folha aos betinhos, estes foram pedir ajuda aos seguranças do Urban porque em Lisboa "na pa" de polícia porque estão bué de ocupados a tirar selfies para a página deles no face. Por isso é que o Costa antes de agarrar na pasta de primeiro ministro deu ordens muito claras lá na câmara: ai e tal os seguranças podem dar uma perninha na ordem pública, pronto. Ou um pezinho, eles que escolham. Assim como assim os do Urban já ajudam tanto...

A Maçã sabe de cenas e assim, só não sabe fazer pesquisas e ver o número de queixas de agressões feitas no interior do Urban Beach por essa net fora, porque se soubesse não cagava postas de pescada sem ter comido peixe. 
Ela diz também que depois de saber a verdade só vê o uso da força como única solução, apesar disto não significar que é apologista da violência. Ahhhh, a condição feminina e as suas contradições de merda, a trabalheira que é ser homem.

Lá está, ela não esteve lá, como a carneirada também não esteve, mas a verdade que ela sabe é mais verdadeira que a dos outros e depois a cerejinha com licor no cimo disto tudo é que a moça apenas vê o uso da força com a única solução. Parece que os estou a ouvir, "Pá, tem mesmo de ser, tu não me leves a mal, mas não sei dialogar, não sei imobilizar as pessoas sem as foder todas, na realidade mal sei juntar duas letras, maneiras que não me resta mais nada senão aventar-te aí um petardo na mona, não te mexas agora se fazes favor, que estás mesmo bem assim, prometo que não te aleijo muito. Obrigada e até para a semana."

 

"Provavelmente é necessário mandar um abaixo um para provocar medo no grupo e fazê-los recuar em modo colectivo"

Esta foi a única coisa de jeito que conseguiu escrever e ainda assim foi ao lado. Era isto que os espectadores deviam ter feito.



Cara criatura estranha, se calhar a passares por aqui ou se isto te chegar, apanha que são rosas, senhora, são rosas:

O teu texto teve o mesmo efeito em mim que o vídeo teve em ti: expressões de espanto e terror. É recorrente de cada vez que opinas, reparo agora. O texto não é de difícil compreensão, não é quem lê que é estúpido. Dizem os entendidos que quando a mensagem não chega em condições, a culpa é do emissor, tu revê lá o teu conceito de estúpidez.

Todos levamos na tromba na infância. Faz parte. Leva-se e dá-se. Ninguém vive numa redoma de vidro, intocável. Era bom, mas apenas sucede no mundo dos unicórnios e da Alice. Tenho para mim que só se perderam as que caíram no chão, mas atenção que isto é apenas a minha opinião, longe de mim querer influenciar seja quem for.

O governo está metido nisto em vez de estar a trabalhar em tentar descobrir onde pára o dinheiro das doações dos fogos deste ano porque há mitras bem vestidos, tás a ver? E o karma é do caralho, os nossos filhos crescem e nem sempre vais conseguir vestir a tua com vestidinhos de folhos amorosos e cutchi-cutchi, nem sempre a vais conseguir manter sorridente e em casa, feliz, limpa e obediente. A menos que tenhas parido um nenuco.
Eu na verdade não quero que os meus filhos possam sair à noite. Pelo contrário. Por mim, só saem de casa aos 50 e comigo a supervisionar todos os passinhos. Eu quero é que os meus filhos sejam grandes. Que ajam de acordo com o que as suas consciências lhes ditam. Que não virem costas. Que não finjam que não vêem. Que não entrem apenas em lutas da moda. Que se vistam como quiserem. Que aparentem ser o que quiserem. Que sejam o que quiserem. Que sejam felizes sujos ou limpos. De ténis rotos ou novos. Que não sejam julgados por pessoas do teu tipo. Que não tenham de lidar com gente do teu nível. Que não sejam julgados pela aparência, cor da pele ou extracto social. Que sejam humanos. Que lutem. Que corram a pedir ajuda. Que virem a merda do mundo inteiro para ajudar uma pessoa que seja.

É isto que eu quero.

E a extinção de pessoas como tu, claro.

 





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