Não dormi nada a puta da noite inteira.
Acabei de levar a Ella ao veterinário para uma esterilização e caralhos ma fodam se não estou fartinha de chorar por causa daquela ingrata dum cabrão. A criatura parece que adivinhava. Ontem à noite aninhou-se no meu colo enquanto eu assistia televisão e seguiu-me até ao quarto, quando me fui deitar. Enquanto deitava o João reparei na fulana em cima da cama, no meu lado, deitada ao lado da minha almofada e aí ficou, durante toda a noite. Eu acordava de hora a hora e às vezes nem isso, fazia-lhe uma festa e a gaja desatava num ronrom que me trazia as putas das lágrimas aos olhos.
E se alguma coisa correr menos bem? Devia ter-lhe dito que esta casa não é a mesma sem ela. Que gosto tanto de a ter por cá. Que o Guedes já a desculpou e desde que ela foi que não pára de miar. Que o João gosta de a ter à porta do quarto, muito atenta a tudo, tipo gato de guarda e que quem quiser entrar que se desvie que ela parece um gato de loiça. Que vou deixá-la lamber água da torneira do bidé, sempre que for à cada-de-banho e ela for a correr atrás de mim. Que lhe vou dar comida à descrição e cagar nas gramas que o veterinário acha certo. Que vou apresentá-la ao Canário, o Meireles.Que não ligo mais o chuveiro quando a vir na banheira. Que não lhe dou mais com o chinelo quando ela afiar as unhas no cesto da roupa.
Pronto, ok, não exageremos, dou-lhe com a mão, pronto.
E já estou a chorar outra vez, foda-se.