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João perscrutou toda a sala. Precisava de encontrar algo cortante, alguma coisa capaz de abrir o gato ao meio e ao mesmo tempo que deixasse uma costura perfeita. Não queria matar o bicho, queria apenas a chave. Ou talvez quisesse, o gato ou a chave?, a chave ou o gato?, a questão martelava-lhe os pensares, toldava-lhe os raciocínios.
De repente, estático, repara que num dos ricochetes, havia saltado de uma jarra de água, estilo Luís XV, em casquinha, brilhante, um espectáculo de jarra, três objectos, qual deles o melhor; uma faca de barrar Planta, uma colher e um aparelho de raios X.
Tirou do bar uma garrafa de Bushmills-Irish Whiskey. Sentou-se ao lado do gato e, comparsas, beberam o néctar em silêncio, enquanto pensavam na vida.
João esperou.
Quando o gato adormeceu, meteu mãos à obra, o tempo urgia. Maria, arrebatada pela braveza de João, paralisada de admiração e enlevo, assistia à ligeireza dos seus movimentos, de boca aberta. Em dois minutos João tinha o serviço feito, nascera para aquilo.
De mangas arregaçadas e de olhos diabólicos segurava a chave ainda molhada de sangue, elevando-a, qual troféu. Com o entusiasmo a chave escapa-se-lhe da mão, bate em mais meia dúzia de coisas espalhadas pela casa indo ricochetear, por último, no dente do siso, o esquerdo, de Maria, que se mantinha boquiaberta, remetendo-a para o interior do seu ser.
João sossega Maria. Decidem esperar que Maria cague a chave, mas Maria, que é presa de intestinos, sente-se inquieta.
Esperaram.
Quinze dias de espera solitária, de quilos de kiwis e de xarope de maçã e nada. Quando João viu que a única coisa que Maria tinha para lhe oferecer eram pequenos e intimos peidos com aroma estranho, tirou-lhe, à socapa, um RX. De perfil, o seu melhor ângulo. Não esqueceu, o amor tem destas coisas.
Encostou a chapa à janela e voilá; a chave não era cagada porque estava atrás de um olho. O esquerdo.
João procura soluções.
João lembra-se da colher.
*Post feito em parceria